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2015-05-04


A Virgem aparece a Simão Stock e ao Papa João XXII


Ana Lúcia Vasconcelos


   A Virgem aparece a Simão Stock e ao Papa João XXII

 

Capitulo 15

 

         No século XII, um grupo de homens dispostos a seguir Jesus Cristo reuniu-se no Monte Carmelo em Israel e ali construíram uma capela em honra a Nossa Senhora. Este local, considerado sagrado desde tempos imemoriais (ver Isaías 33, 9; 35,2 e Miquéias (7,14) e se tornou célebre pelas ações do profeta Elias (I Reis 18). A palavra Carmelo significa Jardim ou Pomar sendo que ali nasceram os carmelitas ou a Ordem dos Irmãos da Bem Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo. Tempos depois, os carmelitas mudaram-se para a Europa e passavam por grandes dificuldades.

 

       No dia 16 de julho de 1251 a Virgem apareceu ao frade carmelita inglês Simão Stock, um grande devoto seu, que fora eremita, quando este rezava em seu convento em Cambridge, Inglaterra. Simão Stock que era superior geral da Ordem pediu a Nossa Senhora um sinal de sua proteção que fosse visível a seus inimigos. Recebeu então um escapulário dizendo: “Meu filho querido, recebe este Escapulário. Aquele que morrer com ele não padecerá do fogo eterno. Este é um sinal de salvação, defesa nos perigos, aliança de paz e pacto sempiterno”.

       Quem segue Jesus e é devoto de Maria Santíssima caminha a passos seguros no caminho da salvação. O escapulário é sinal da proteção de Maria. A festa de Nossa Senhora do Carmo é celebrada no dia 16 de julho de cada ano desde 1332 tendo sido estendida a Igreja universal no ano de 1726 pelo Papa Bento XIII. Esta promessa foi confirmada pela Santíssima Virgem quando apareceu ao Papa João XXII a quem fez a segunda promessa: libertaria do Purgatório, no primeiro sábado depois da morte, levando para o céu, as almas daqueles que em vida, tivessem usado o Escapulário e tivessem cumprido as obrigações especiais impostas por este Privilégio chamado Sabatino.

     Além dessas duas grandes promessas, o uso do Escapulário é um sinal de proteção de Nossa Senhora nos perigos, símbolo e penhor de paz e de aliança eternas. São ainda concedidos tesouros incalculáveis de indulgências plenárias e parciais aos que trazem o Santo Escapulário. Em 1322 o papa João XXII aprovou o uso do Escapulário como sinal de salvação. Solicitou-se aos que o usassem que rezassem diariamente, três Aves Maria e três Glórias em honra da Virgem Maria, pedindo sua proteção eterna. Ele declarou que usa o Escapulário desde sua juventude: “o Escapulário é signo de aliança entre Maria e os fiéis. Traduz concretamente a entrega na cruz, de Maria ao discípulo João” (Jo 19,25-27).

http://www.portalcarmelitano.org/galeria-de-imagenes/category/18-san-simon-stock.html

http://www.derradeirasgracas.com/4.%20Apari%C3%A7%C3%B5es%20de%20N%20Senhora/Nossa%20Senhora%20do%20Carmo.htm

Escapulário do Carmo

 

     O Escapulário consiste em dois pedaços de pano marrom ou café, ligados entre si por dois cordões cadarços ou correntinhas, de modo que um quadrinho fique sobre o peito e outro sobre as costas.  Um pedaço de pano traz a estampa de Nossa Senhora do Carmo e de outro a do Sagrado Coração de Jesus ou o emblema da Ordem do Carmo.

      A palavra latina scapulas significa ombros, daí designar-se Escapulário este objeto de devoção que é colocado sobre os ombros. É uma dádiva de Nossa Senhora à sua Ordem Carmelitana e por meio desta, a todos os cristãos que o levarem, e que, portanto serão merecedores das grandes promessas, privilégios que ela destina aos seus fiéis devotos: “na vida protejo, na morte ajudo, do inferno livro, do purgatório salvo” - foi esta a promessa da Virgem do Carmo.

       Mas, para se conseguir os Privilégios e Indulgências do Escapulário é preciso: 1o. Que a imposição seja feita por um padre carmelita ou sacerdote com faculdade especial e que o nome do confrade seja inscrito no registro da confraria; 2o. Trazê-lo dia e noite, isto é sempre. Para lucrar o segundo privilégio chamado sabatino é necessário: guardar a castidade segundo o seu estado, rezar orações prescritas pelo sacerdote para substituir o Oficio Parvo e determinados jejuns e abstinências. Oficio Parvo, esclarecendo, é o Oficio Pequeno, resumido do Grande Oficio digamos, que os sacerdotes têm obrigação de ler todos os dias: a famosa Liturgia das Horas.

     Para os religiosos carmelitas é símbolo de consagração religiosa na Ordem de Nossa Senhora do Carmo. Para os fiéis leigos, para o povo, é símbolo de devoção e afeto para com a mesma Senhora do Carmo. Nos meios populares é conhecido como “bentinho do Carmo”. “Para a Igreja, como disse o Papa Paulo VI”, entre as formas de devoção mariana está o uso piedoso do Escapulário do Carmo, pela sua simplicidade e adaptação a qualquer mentalidade. Maria a Mãe de Jesus, ‘ é a mulher que pisa na cabeça da serpente ’(Gn. 3 15) e aparece ‘vestida de sol, tendo a lua sob os pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça.”. (Ap.12,1-17)”.

http://www.basilicadocarmocampinas.org.br/origem.htm

 

Escapulário é

 amuleto dos católicos?

 

     Mas vejamos a história contada pelo pároco da Igreja do Carmo em Campinas (SP). Minha primeira pergunta ao padre Pedro Carlos Cippolini, foi a seguinte: ele acreditava como me disse uma religiosa, de quem não citarei o nome, se o Escapulário seria um, ou, o amuleto dos católicos? E a segunda: ele acreditava no Purgatório (sobre o qual eu já tinha lido muitas revelações algumas até bem terrificantes) e sobre o qual a Virgem se refere em muitas aparições como veremos na sequencia desses relatos? Ou ele acreditava que ele (o Purgatório) fosse também, como queria a mesma religiosa, uma invenção medieval segundo o escritor francês Jacques Le Goff?   O padre Pedro Carlos, muito calmo, pacífico, começa me explicando que a Igreja não é uma sociedade onde cada um acredita no que quer, mas acredita no que foi transmitido pelos apóstolos, aquilo que é tradição com maiúscula e que, portanto está consignado na Bíblia.  “Jesus, no Evangelho”, ele lembra, “fala de um inferno, fala em fogo da Geena em várias passagens, inclusive na parábola do rico e do pobre Lázaro, que é aquela história do rico que se banqueteava e se regalava, enquanto o pobre Lázaro, sentado à sua porta desejava matar a fome com as migalhas da sua mesa. Enfim, o pobre morre e vai levado pelos anjos ao seio de Abraão”.

Ouçam os profetas

 

      O rico morre e “estando lá nos tormentos do inferno”, levanta os olhos e vê Lázaro gozando as delicias do paraíso. Pede então à Abraão que mande Lázaro molhar  ponta do seu dedo na água, a fim de refrescar a sua língua,  “ pois sou cruelmente atormentado nestas chamas.” Abraão porem responde: “Filho, lembra-te de que recebeste teus bens em vida, mas Lázaro, males; por isso ele agora aqui é consolado, mas tu estás em tormento. Além de tudo há entre nós um grande abismo, de maneira que, os que querem passar daqui para vós não o podem , nem os de lá passar para cá.”  E o rico continuou insistindo para que Abraão então mandasse Lázaro à casa dos seus irmãos para adverti-los sobre o castigo que os esperava. A resposta de Abraão foi: “Eles tem lá Moisés e os profetas, ouçam-nos”. E à insistência do rico, o patriarca respondeu pondo ponto final no diálogo: “se não ouvirem a Moisés e aos profetas, tampouco se deixarão convencer, ainda que ressuscite algum dos mortos.” (Luc 16,19-31).

    Continuando sua explicação, o padre Pedro Carlos Cippolini diz que o Catecismo da Igreja fala em inferno, mas, não se refere ao Purgatório, e que ele o entende não como um lugar de tormento, segundo os relatos. E depois, “não está dito que há um abismo entre um lugar e outro, de onde ninguém consegue sair? Ele pergunta. Segundo os teólogos mais avançados,” ele explica, “o Purgatório não é um lugar, mas um momento, uma maneira de Deus, na sua infinita misericórdia completar a obra de purificação e de redenção. O Purgatório pode até ser uma doença prolongada, antes da morte de uma pessoa”.

 

No Monte Carmelo

a Virgem fala do Purgatório

 

     Quanto ao Escapulário, ele diz que é uma devoção das mais antigas da Igreja Católica. E conta a história: “na época dos cruzados, existia na Palestina, na Terra Santa, um grupo de monges no Monte Carmelo que vivia ao redor de uma capela de Nossa Senhora chamada por eles de A Bem Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo. Ora, esses homens consagrados à Deus e muito devotos de Maria queriam a libertação da Terra Santa, temiam as divisões que ocorriam na Europa. Um dia o frei Simão Stock, rezava muito aflito, pedindo à Virgem que protegesse a Ordem. Foi então que Nossa Senhora apareceu a ele dando o Escapulário, símbolo, sinal de proteção. São aqueles dois pequenos retângulos que tem Nossa Senhora do Carmo na frente e atrás o Coração de Jesus. E o que significa? que Deus protege, Jesus e Maria protegem quem os usar. É amuleto? depende do modo como as pessoas virem o objeto? Nós precisamos de sinais, de símbolos, e o Escapulário é um símbolo, sinal da tua fé na proteção de Deus na sua vida. Seria amuleto se a pessoa pusesse a sua segurança no objeto.”

Confirmando o Purgatório

 

     Saio da Igreja do Carmo e mergulho na Livraria Papirus (para quem não conhece Campinas, a livraria ficava do lado da igreja): estava sem destino certo, na verdade pesquisando títulos sobre espiritualidade em geral quando, eis que vejo dois livros de Jacques Le Goff.  Abro um deles ao acaso: O Maravilhoso e o Quotidiano no Ocidente Medieval (Edições 70, Lisboa, 1983) e meus olhos dão com o seguinte trecho, onde o autor está citando um exemplo de Cesário de Heilsterbach no seu Dialogus Miraculorum, obra do inicio do século XIII, (por coincidência o mesmo século da aparição da Virgem ao frei Simão Stock): “Um jovem nobre, converso cisterciense está a guardar carneiros reunidos numa eira da abadia a que pertence quando vê aparecer diante de si um primo recentemente falecido”. Com toda a tranquilidade pergunta-lhe: ‘ que fazes aqui? ’ E o outro em resposta:‘ Vim para dizer que estou no Purgatório e que é preciso que rezes por mim.‘Faremos o que for necessário’, respondeu o jovem monge. E o defunto afasta-se no prado e desaparece no horizonte como se fizesse parte da paisagem natural”. Só para registrar, o teólogo francês Jacques Le Goff tem outro livro chamado O Nascimento do Purgatório, onde ele aborda esse  “terceiro lugar“ esse “além” inventado pelos católicos, segundo os protestantes, que no século XVI lutavam com os primeiros acerca desta crença.

https://padrepauloricardo.org/episodios/o-purgatorio