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2014-10-07


Virgindade perene de Maria questão polêmica


Ana Lúcia Vasconcelos


Virgindade perene de Maria questão polêmica

 

 

Sexto Capitulo

 

Outra questão muito estudada e polêmica foi a perpétua virgindade de Maria, que não é abordada pelos quatro evangelistas nem por qualquer escrito importante dos três primeiros séculos do catolicismo. Para o teólogo romano Tertuliano (150 -222), o fato do casamento de Maria ter ocorrido antes da concepção de Cristo, é um bom argumento para provar a realidade da encarnação (de que Deus se fez homem efetivamente). 
Já o teólogo Orígenes, apela para o argumento dos irmãos de Jesus, na controvérsia contra os que afirmavam que Cristo teve apenas um corpo fantástico e não real. Interessante notar que esta doutrina-da virgindade perene (em grego aeiparthenia), foi inicialmente herética. Foi divulgada num escrito proibido pelos primeiros papas, sobretudo pelo Papa Gelésio I, no Protoevangelium Jacobi (Primeiro Evangelho de Jacó) escrito, como em geral se admite, no século II.

Baseado neste, surgiram outros pseudo - evangelhos sendo um deles um texto que São Jerônimo (383), admite ter escrito na adolescência, e onde aventava a hipótese da virgindade perpétua de Maria por ocasião de uma veemente disputa com Helvidio.
São Jerônimo afirma que depois disso, esta doutrina ganhou terreno rapidamente. Chega a dizer que os irmãos de Jesus (referidos nos evangelhos) não eram filhos de Maria, nem de José em casamento anterior, mas de outra Maria, irmã da Virgem e esposa de Cleofas ou Alfeu. Esta doutrina foi aceita oficialmente pela Igreja no Concílio de Calcedônia de 541 e fica desta forma incorporada à dos ortodoxos e católicos romanos, sendo defendida por muitos anglicanos, alguns luteranos e ainda certos teólogos protestantes.
Desde os primórdios outra questão que provocou disputas foi a doutrina que afirma a Imaculada Conceição ou a ausência total de pecado em Maria, até mesmo daquele, que segundo a Igreja, é transmitido por herança de Adão. Apesar de hoje ser um dogma católico, não fez parte da tradição primitiva. Santo Agostinho afirma que ela nasceu com o pecado original, mas defende sua imunidade contra qualquer outro pecado. Igualmente Santo Anselmo defende esta causa na sua homilia Cur Deus Homo-II 16 (Porque Deus se fez Homem). Santo Agostinho, mais tarde, no seu De Natura et Gratia (Da Natureza da Graça, cap.36) , já chega a admiti-la, embora não queira entrar no mérito da questão. A doutrina atual começou no século XII quando foi criada oficialmente pela Igreja, a festa da Imaculada Conceição.


Unidade de pessoa em Cristo


Mas é principalmente na polêmica cristológica - que trata da unidade de pessoa em Cristo, que a maternidade de Maria ocupa um lugar central: tratava-se de reivindicar para Jesus Cristo uma humanidade integral contra alguns hereges que não queriam reconhecer a sua corporeidade real e concreta. Vejamos a questão: o título de Mãe de Deus foi dado a Maria pela primeira vez por teólogos de Alexandria, no século IV, ainda que haja documentos atestando que já nos dois primeiros séculos da Igreja Maria era conhecida como Mãe de Jesus e Mãe da Igreja, realizando a profecia cantada no Magnificat: “Eis que as gerações me chamarão bem aventurada”. 
No século II, Nestório refuta esta doutrina como atentatória à dignidade de Deus, mas a reação da cristandade foi unânime e enérgica, até violenta. As discussões ferveram ao longo dos séculos III e IV passando pelo Concilio de Nicéia (325) e culminando na definição do Concilio de Èfeso (431) que consagra a expressão Mãe de Deus (Theotókos) em grego, (e em latim deipara), portanto contrária aos adeptos da doutrina de Nestório. O argumento de Nestório baseava na distinção que fazia de: Jesus o Verbo- Deus, e o homem, pretendendo que Maria fosse apenas mãe do homem e não de Deus. Era, portanto a questão da unidade de pessoa em Jesus Cristo que estava em causa. Mas ao mesmo tempo em que se define a questão cristológica, define-se também a imagem de Maria, cuja grandeza está na maternidade divina. E os dois atributos já referidos anteriormente que envolvem a questão da virgindade e da santidade plena (concebida sem pecado) aparecem como constante da definição de fé e como consequência de sua prerrogativa de Mãe de Deus. Foi ainda no Concílio de Éfeso que surgiu a oração que completa a Ave Maria: Santa Maria, Mãe de Deus... “Igualmente data daí o costume de se ostentar a Virgem com o Menino. E deste atributo - Mãe de Deus nasce o seu poder de intercessão junto a Deus em favor dos homens. Por isso é também cognominada a Onipotência Suplicante”.

O culto à Maria

Não consta que Maria tenha sido objeto de culto específico na Igreja primitiva. Sua presença na fé dos primeiros cristãos é, porém atestada pelos documentos mais antigos da tradição, como os símbolos em que se afirma que o Cristo nasceu da Maria Virgem ou os testemunhos de Santo Inácio de Antioquia (107) São Justino (167), Santo Irineu (202) Tertuliano (150). Orígenes (254). Inicialmente se dava ênfase à filiação humana de Jesus, ex-Maria Virgine, para situá-lo na descendência de Davi, verificando-se a realização das profecias messiânicas. Aos poucos a figura de Maria emerge, e Irineu já explora o paralelismo entre Maria e Eva. A afirmação da virgindade é constante, liga-se a profecia de Isaías (7,13): “Por isto o próprio Senhor vos dará um sinal: uma virgem conceberá e dará à luz um filho e o chamará Deus Conosco”. Bem mais tarde Maria se torna objeto de culto e de uma reflexão teológica específica, começo do que posteriormente passou a se chamar Mariologia.


Purificação da Santa Virgem
é festa mais antiga

A festa mais antiga que se tem noticia é da Apresentação de Maria no Templo em Jerusalém, que ficou conhecida no Ocidente como Purificação da Santa Virgem e data da segunda metade do século IV. Na Armênia como na Gália e na Espanha, o documento do século VI registra um dia consagrado a Maria nas imediações do Natal. Em Roma vamos encontrar apenas no século VII, festas dedicadas a Maria, e mesmo estas, de inspiração bizantina. São elas: a Purificação, a Anunciação (25 de março) a Natividade de Maria (8 de setembro) e a Dormitio ou Koimesis( dormição) no Oriente (15 de agosto) mais conhecida como Assunção.A Festa da Imaculada Conceição é posterior no Ocidente e embora conste de calendários particulares desde o fim do século IX, sua celebração vai se tornar generalizada apenas na segunda metade do século XI. A partir do século IX, Maria, como Mãe do Redentor, vai começar a ser chamada de Redentora. No século XV lhe é dado o título de Co-Redentora. Em 1854 portando no século XIX, Pio IX define o dogma da Imaculada Conceição de Maria, sendo que o dogma da Assunção foi definido por Pio XII em 1950. Estas festas vão abrir caminho para outras devoções que encontram clima propício para se desenvolver no misticismo que caracteriza o fim da Idade Média. E a piedade mariana faz-se presente em inumeráveis igrejas, catedrais, santuários para onde vão multidões em peregrinação, confrarias, que vão provocar movimentos de reação entre os protestantes especialmente da Reforma. Segundo eles, era preciso restituir a Cristo, o lugar central na devoção.

Superveneração

No calor da polêmica os dois lados cometeram excessos e a reação antirreformista vai além, dando ênfase exagerada ao culto dos santos, entre os quais Maria vai ocupar lugar singular, a ponto de o seu culto receber especial denominação: hiperdulia que se poderia traduzir como superveneração. Estavam abertas as comportas para o sentimento que vai dominar todo o século XVII, sendo que a reação contra a Reforma, vai atingir seu auge na Península Ibérica, exatamente na época em que o Brasil foi descoberto, fato que vai influenciar profundamente a nossa catequese. Os especialistas acreditam que o culto mariano se desenvolveu muito no Brasil principalmente pelo tipo de sociedade patriarcal que aqui vigorava o que deu como consequência o predomínio da figura materna na afetividade, que vai se projetar na piedade. No decorrer dos anos, o culto à Maria vai se tornar tão importante, a ponto de desenvolver-se como uma teologia própria - a Mariologia. O Concílio Vaticano II vai reequilibrar o culto mariano, reintroduzindo o mistério de Maria no mistério da Igreja. Segundo o padre Roman, falta definir os dogmas de Maria Medianeira de Todas as Graças, Advogada e Co-Redentora, título que fica submisso ao único Medianeiro, Jesus Cristo. “Recordemos” ele diz, “que Maria por ter sido escolhida para ser Mãe de Jesus, significou tão alta entrega a Deus que foi preservada do pecado original. E a sua Assunção ao céu, significou a suprema configuração com Jesus, seu Filho”.

 

Mãe de Deus e
Mãe dos homens

 

“A maternidade virginal é o privilégio central donde derivam todos os outros privilégios de Maria. Pelo seu SIM à mensagem de Deus, Maria contribuiu para a salvação de todos os homens. Isso significa que, de acordo com os desígnios de Deus, os homens devem aceitar (com a graça de Deus) a sua própria salvação. Diz o teólogo Schmaus que ‘em Maria se concentra o SIM dos homens a Deus e a Cristo como Salvador. Em seu SIM, Maria recebeu a salvação para todos os homens”. O padre Roman lembra que Maria exerceu um papel fundamental quando o Espírito Santo desceu para constituir a Igreja: Ela estava ali presente. Agora, glorificada corporalmente, continua com sua missão que exercera quando estava na Terra. “É claro que aquilo que Maria é, o é devido a seu Filho Jesus. O que faz, o faz por Jesus Cristo. Maria glorificada exerce o seu papel de intercessão. E esta é essencial para ela. Ela tem todo o poder. É a Onipotência Suplicante. A missão de Maria no céu consiste na entrega a Cristo e na solidariedade em favor dos homens que ainda estão peregrinando para a casa do Pai. Devido a esta solidariedade de Mãe, ela acompanha os passos de todos e da cada um de seus filhos, diariamente. Está presente em suas necessidades.”


Jesus é Deus
e homem

“Jesus é ao mesmo tempo Deus e homem, isto é, tem duas naturezas: uma divina e outra humana. Mas a pessoa é uma, a segunda da Trindade. O EU a quem se atribui tanto os atos divinos, como os atos humanos, é o EU DIVINO. Todos os atos de Jesus realizados, como homem, são atribuídos à PESSOA DIVINA. Por isso Maria, sendo Mãe de Jesus, é Mãe de Deus, uma vez que a pessoa de Jesus é Deus. E por ser Mãe de Deus é também mãe dos homens. Nossa Senhora se tornou a Onipotência Suplicante, isto é, aquela que pede e distribui todas as graças que vem de Cristo. Jesus é o único Mediador, mas ele quis colocar a mãe dele como Medianeira entre Ele e os seres humanos. Por isso, podemos e devemos invocá-la sob o título de Medianeira, Advogada e Procuradora da humanidade. Maria assume sua missão, começando logo depois que Jesus subiu ao céu. Ela mantém os apóstolos unidos, rezando com eles, à espera do Espírito Santo. Ela, na sua humildade, ajuda a Igreja nascente com suas preces e seus conselhos. Mas ela é Mãe de todos os homens, em todos os tempos, por isso os acompanha até o fim do mundo. Assim, enquanto houver um ser humano sobre a terra, ela não sossega, pois para todos deseja a salvação. Ela manifesta a misericórdia de Deus, tornando-a presente no meio dos homens, com seu carisma de mãe”.
Por isso através dos séculos, quando seus filhos necessitam, ela, muitas vezes aparece e deixa suas mensagens à humanidade, através de algumas pessoas, a quem chamamos videntes. Nestas aparições em geral, Nossa Senhora deixa sempre propostas, nunca imposições. Ela deixa aos homens a liberdade de escolha. É evidente que quando se escolhe o que ela propõe, escolhe-se o melhor: aquilo que está no Evangelho e que os homens em geral esqueceram. Pois, sendo Mãe, Ela sempre quer o melhor para seus filhos”.

Leia mais:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_(m%C3%A3e_de_Jesus)

http://wiki.cancaonova.com/index.php?title=Purifica%C3%A7%C3%A3o_de_Maria&redirect=no

http://www.a12.com/academia/festa-da-purificacao-de-nossa-senhora-e-da-apresentacao-do-menino-jesus-no-templo/