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2014-12-02


A natureza da devoção à Santíssima Virgem


Ana Lúcia Vasconcelos


A natureza da devoção à Santíssima Virgem

 

 

 

Oitavo Capítulo

Na segunda parte do livro, o autor inspirado, estuda a natureza da devoção à Santíssima Virgem Maria, abordando no artigo primeiro, o que é necessário a uma verdadeira devoção: l. unir-nos a Jesus Cristo, nosso último fim; 2. Entrega total de nós mesmos por amor. No artigo segundo São Luis Maria, fala da necessidade de uma verdadeira devoção à Virgem, dada a fraqueza humana, e onde ela nos deve levar: 1. A nos despojarmos e nós mesmos; 2. A aceitar a mediação de Maria junto de Jesus Cristo, e 3. Fazer perseverar na graça divina. No primeiro capítulo, onde aborda a escolha da verdadeira devoção à Santíssima Virgem estuda: os sinais da falsa devoção, os devotos críticos, os escrupulosos, os exteriores, os presunçosos, os inconstantes, os hipócritas e os interesseiros. No artigo segundo fala dos sinais da verdadeira devoção à Santíssima Virgem explicando que ela deve ser: 1. Interior, 2. Terna, 3. Santa, 4. Constante, 5. Desinteressada. No segundo capítulo, o autor explica as várias formas da verdadeira devoção à Santíssima Virgem abordando no artigo primeiro: as práticas comuns da verdadeira devoção à Santíssima Virgem, dizendo no segundo, que a prática perfeita consiste na consagração total de si mesmo, ou seja, na santa escravidão do amor. Esclarece que: 1. A entrega total a Maria é uma perfeita consagração a Jesus por ela, e 2. É uma perfeita renovação das promessas do batismo. No artigo terceiro aborda São Luis Maria os motivos que recomendam esta devoção: 1. O serviço mais perfeito de Deus, 2. A imitação de Jesus Cristo e de Deus, 3. A vantagem para a nossa alma, 4. A maior glória de Deus, 5. A união com Cristo, 6. Uma grande liberdade interior, 7. É causa de grandes bens espirituais para o próximo, 8. Meio admirável de perseverança. Finalmente, no excurso, fala das duas figuras bíblicas desta devoção: Rebeca e Jacó.

Efeitos da entrega total
práticas e orações

No artigo quarto São Luis estuda os efeitos da entrega total à Maria que são excelentes, segundo ele e levam a: 1. Conhecimento e desprezo de si próprio, 2. Participação na fé de Maria, 3. Libertação do temor servil e dos escrúpulos, 4. Grande confiança em Deus e Maria, 5. Comunicação da alma e do espírito de Maria, 6. Transformação das almas em Maria, à imagem de Jesus Cristo, e 7. A maior glória de Jesus Cristo. E finalmente no artigo quinto o autor ensina como devem ser as práticas desta devoção: 1. As práticas exteriores e as práticas interiores para no excurso abordar o modo de praticar esta devoção na Sagrada Comunhão. No Apêndice São Luis Maria Grignion de Montfort coloca orações e fórmulas de Consagração à Santíssima Virgem Maria: Consagração a Cristo, a Sabedoria encarnada pelas mãos de Maria; Outra Fórmula da Consagração Total de Si Mesmo a Jesus por Maria; Estatutos da Arquiconfraria de Maria; Rainha dos Corações; Ave, Estrela do Mar; Vem, Espírito Criador; Vinde, Espírito Santo; Ladainha do Espírito Santo; Ladainha do Santíssimo Nome de Jesus; Coroinha de Nossa Senhora; Método de São Luis Maria de Montfort, para Rezar o Rosário e Ladainha de São Luis Maria de Montfort.


Verdadeira devoção leva à
união com Cristo

 

“A verdadeira devoção deve unir-nos a Jesus Cristo, nosso último fim”, escreve São Luis Maria de Montfort, para em seguida enumerar algumas verdades onde ele se apóia para embasar suas proposições. A primeira verdade, ele lembra, é que Jesus Cristo é nosso último fim. ”Jesus Cristo, nosso Salvador deve ser o fim último de todas as nossas devoções, de outro modo seriam falsas e enganadoras. Jesus é o Alfa o Ômega, o principio e o fim de todas as coisas”. “Nós não trabalhamos -como diz o Apóstolo -senão para tornar cada homem perfeito em Jesus Cristo. Porque só nele habita toda a plenitude da Divindade, e todas as outras plenitudes da graça, virtude e perfeição, e só nele fomos abençoados com toda a benção espiritual. Ele é o nosso único Mestre, que nos deve ensinar o único Senhor de quem devemos depender, o único Modelo ao qual nos devemos assemelhar, o único Médico que nos há de curar, o único Pastor que nos deve alimentar, o Caminho único que nos deve conduzir, a única Verdade em que devemos crer, a única Vida que nos deve animar, o único Tudo, que nos deve bastar em todas as coisas. Não nos foi dado debaixo do céu, outro nome pelo qual devamos ser salvos, senão o nome de Jesus.

Fundamento
da nossa salvação

E São Luís continua dizendo que Deus não constituiu outro fundamento da nossa salvação, perfeição e glória senão Jesus Cristo. “Todo edifício que não estiver erguido sobre esta pedra firme, está construído sobre areia movediça e, mais cedo ou mais tarde acabará infalivelmente por cair. Todo fiel que não estiver unido a Jesus, como o sarmento à cepa da vinha, cairá, secará e só servirá para ser lançado ao fogo. Fora de Jesus Cristo tudo é extravio, mentira, iniquidade, inutilidade, morte e condenação. Mas se estamos n ‘Ele, e Ele em nós, não há que temer a perdição”.“ Porque assim nem os anjos do céu, nem os homens da terra, nem os demônios do inferno, nem qualquer outra criatura nos pode prejudicar, pois não nos poderá separar da caridade de Deus, que está em Jesus Cristo. Por Jesus Cristo, com Jesus Cristo , em Jesus Cristo podemos tudo: dar toda a honra e glória ao Pai , na unidade do Espírito Santo, tornar-nos perfeitos e ser, para o nosso próximo, um bom odor de vida eterna.”

Meio fácil de
encontrar Jesus

O prefaciador e comentador desta edição do Tratado, dom Lelis Lara, esclarece que nestes trechos, extraídos da Sagrada Escritura, São Luis Maria diz expressamente que Jesus é o fim, e Nossa Senhora apenas o meio para chegar a este fim. Há quem leve a mal o autor, não mostrar suficientemente esta relação por todo o livro. Na verdade, à primeira leitura pode-se ter a impressão de que a subordinação de Nossa Senhora a Jesus não é bastante realçada. A dita impressão pode ser explicada parcialmente pela carência da primeira parte do livro que daria mais equilíbrio entre as partes cristocêntricas e marianas. Continuando São Luis diz: “Ó meu amável Jesus, aqui me volto um momento para Vós a fim de me queixar amorosamente à vossa divina Majestade, de que a maior parte dos cristãos, mesmo os mais instruídos, não saibam a ligação necessária entre Vós e vossa santa Mãe. Vós estais sempre com Maria, Senhor, e Ela está sempre convosco, nem pode estar sem Vós, pois deixaria de ser o que é. Maria está de tal modo transformada em Vós pela graça, que já não vive, nem existe: só Vós meu Jesus que viveis e reinais nela, mais perfeitamente que em todos os anjos e bem aventurados”.“ Ah! se os homens conhecessem a glória e o amor que recebeis desta admirável criatura, teriam sobre Vós e sobre Ela sentimentos muito diferentes dos que têm. Ela Vos está tão intimamente unida, que seria mais fácil separar a luz do sol ou o calor do fogo-mais ainda- seria mais fácil separar de Vós todos os anjos e santos, do que de Maria Santíssima. Ela vos ama, pois , mais ardentemente e vos glorifica mais perfeitamente que todas as vossas outras criaturas juntas.”


Ignorância dos homens 
à respeito de Maria

“Depois disto”, lamenta-se São Luis, “meu amável Mestre, não é coisa espantosa e lamentável ver a ignorância e as trevas de todos os homens deste mundo a respeito da vossa santa Mãe? Não falo tanto dos idólatras e pagãos que não Vos conhecem e por isso não se preocupam em conhecê-la a Ela. Nem falo sequer dos heréticos e cismáticos, que não cuidam de serem devotos da vossa santa Mãe, visto estarem separados de Vós e da vossa Igreja. Falo dos cristãos católicos e mesmo dos doutores entre os católicos, que não Vos conhecem nem a vossa santa Mãe, senão duma maneira especulativa, seca estéril e indiferente, embora façam profissão de ensinar a verdade aos outros”. “Estes senhores só raramente falam da vossa Santa Mãe e da devoção que se lhe deve ter, porque dizem temer que se abuse dela e que se faça a Vós injúria, honrando demasiadamente vossa santa Mãe. Um devoto da Santíssima Virgem fala da devoção a esta boa Mãe , duma forma terna forte e persuasiva, como dum meio seguro e sem ilusão, dum caminho curto e sem perigo, duma via imaculada e sem imperfeição e dum maravilhoso segredo para Vos encontrar e amar perfeitamente. Mas, se esses senhores vêem ou ouvem alguém muitas vezes falar assim, levantam-se contra ele e apresentam mil falsas razões para lhe provar que não se deve falar tanto da Santíssima Virgem, que há grandes abusos nessa devoção , que é preciso empenhar-se em destruí-los e em falar mais de Vós de preferência , a levar os povos à devoção a Maria, a quem já amam bastante.”

Falta piedade e devoção
terna a Jesus e Maria

 

Continuando São Luis Maria de Montfort diz que, se ouve por vezes, falar da devoção à Maria, não para estabelecê-la e propagá-la, mas para destruir os abusos que dela se fazem quando na verdade “estes senhores não tem piedade nem devoção à Maria. Consideram o rosário, o escapulário, o terço, como devoções de beatas, próprias para ignorantes e sem as quais nos podemos salvar. E se lhes cai nas mãos algum devoto da Santíssima Virgem, que reze o terço ou se entregue a qualquer outra prática de devoção para com Ela, depressa lhe mudarão o coração e o pensar. Aconselha-se que reze, em lugar do terço, os sete salmos.”

 Em lugar da devoção à Nossa Senhora, recomendar-lhe-ão a devoção a Jesus Cristo. Ó meu Jesus, terão estas pessoas o vosso espírito? Dar-Vos-ão gosto procedendo deste modo? Agradar-Vos-á quem não empregue todos os esforços para agradar à vossa Mãe, com receio de Vos desagradar? Por acaso, a devoção à vossa santa Mãe impedirá a vossa? Atribui-se Ela a si mesma, a honra que lhe prestam? Forma Ela um partido à parte? É Ela uma estrangeira, sem ligação alguma convosco? Desagradar-Vos-á quem procure agradar-lhe a Ela? Separa-se ou afasta-se do vosso amor, quem a ela se dá e a ama?” E São Luis pede que Jesus o livre dos sentimentos desses pseudo sábios , pede parte nos sentimentos de gratidão, estima, respeito e de amor que Ele tem para com Sua Mãe, para que ele possa amá-la e glorificá-la mais, na medida em que imitá-lo e segui-lo mais de perto.

 

Verdadeira devoção deve
levar à escravidão de amor

A segunda verdade enunciada por São Luis é: “A verdadeira devoção deve levar-nos à escravidão de amor, ou seja, à entrega total de nós mesmos por amor”. No comentário Dom Lelis o esclarece que a ideia da escravidão de amor tem influenciado a vida e a literatura espirituais durante muito tempo. Diz ele que era muito vulgar no tempo de São Luis Maria e servia para exprimir uma dependência total e deliberada de Deus e de Nossa Senhora, um serviço desinteressado. Porém, principalmente nos nossos dias, ele completa, começa a crescer uma oposição contra os termos escravos e escravidão na vida espiritual. “Essas palavras provém do vocabulário histórico-social e estão afetados por lembranças de crueldade e frustração dos direitos humanos mais elementares.

 Para a maior parte dos homens estas reminiscências são tão vivas que lhes é impossível combinar escravidão com amor. ”Igualmente, lembra dom Lelis, é difícil aceitar uma aplicação da ideia de escravidão na relação entre Deus e o homem. Na melhor das suposições, a expressão ’escravidão de amor’ parecer-lhes-á sempre focar principalmente a relação de Senhor - servo o que lança uma luz falsa sobre a relação de Criadora-criatura e não manifesta suficientemente as relações de amor como Pai-filho, Irmão-irmão, Amigo-amigo, Esposo-esposa, Salvador - santificando, Mestre-discípulo, etc.”, sendo que foi exatamente nestas relações de amor que Deus veio se revelar no Novo Testamento, completa dom Leris. E também por estas relações o homem moderno se sente atraído por e para Deus . E o bispo então, para que esta terminologia não seja impedimento ao leitor para entrar “na sublime doutrina espiritual deste Tratado da Verdadeira Devoção à Virgem Maria, tão vantajosa para a maior glória de Deus e a santificação dos homens, sugere que se substitua mentalmente as palavras ‘escravo’, escravidão’, etc., por outras “que abranjam melhor todas as nossas relações com Deus, especialmente as de amor , que pode ser : total-consagrado, consagração total, doação total, entrega total”. Mas evidentemente isso deve ficar a critério do leitor, do devoto de Maria, que para saber mais sobre esta consagração, sobre a escravidão de amor vai ter que ler o Tratado.

Consagração a Jesus
pelas mãos de Maria


Para terminar o capítulo sobre este Tratado, vou transcrever a Consagração a Jesus Cristo, Sabedoria Encarnada pelas Mãos de Maria, que segundo o comentarista, dom Leris, foi tirado de outro livro de São Luis Maria de Montfort, mas tem o mesmo estilo do Tratado e, portanto pode ser lido e rezado segundo os comentários feitos para este. “Ó Sabedoria eterna e encarnada, ó amabilíssimo e adorável Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Filho único do eterno Pai e de Maria sempre Virgem, eu vos adoro profundamente, no seio e nos esplendores de vosso Pai durante toda a eternidade e no seio virginal de Maria, vossa digníssima Mãe, no tempo da vossa encarnação. Dou-Vos graças por Vos terdes aniquilado a Vós mesmos, tomando a forma de um escravo para me livrar da cruel escravidão do demônio. Eu Vos louvo e glorifico por Vos terdes querido submeter em tudo a Maria, vossa santa Mãe, a fim de me tornar, por ela, vosso fiel escravo. Mas infelizmente, ingrato e infiel como sou, não guardei as promessas e votos que tão solenemente Vos fiz no meu batismo. Não mereço ser chamado vosso filho, nem vosso escravo. E, como nada há em mim que não mereça vossa repulsa e a vossa cólera, não ouso aproximar-me por mim mesmo da vossa santíssima e augustíssima Majestade. Recorro pois à intercessão e à misericórdia de vossa santa Mãe, que me destes por medianeira junto de Vós.”

 

Maria Imaculada
tabernáculo vivo da divindade

 

“É por intermédio dela que espero obter de Vós a contrição e o perdão dos meus pecados, a aquisição e conservação da Sabedoria. Eu Vos saúdo, pois, ó Maria Imaculada, tabernáculo vivo da Divindade, onde a eterna Sabedoria escondida quer ser adorada pelos anjos e pelos homens. Eu vos saúdo, ó Rainha do céu e da terra, a cujo império está sujeito tudo o que existe abaixo de Deus. Eu vos saúdo ó Refúgio seguro dos pecadores cuja misericórdia a ninguém jamais faltou. Atendei aos desejos que tenho da divina Sabedoria e recebei, para isso, os votos e ofertas que a minha baixeza Vos apresenta. Eu... pecador infiel renovo e ratifico hoje nas vossas mãos as promessas do meu batismo: renuncio para sempre a Satanás, às suas pompas e suas obras, e dou-me inteiramente a Jesus Cristo, a Sabedoria encarnada, para o seguir, levando a minha cruz todos os dias da minha vida. E para lhe ser mais fiel do que fui no passado escolho-vos hoje, ó Maria, na presença de toda a corte celeste, por minha mãe e”. Senhora. Entrego-vos e consagro-vos, na qualidade de escravo, o meu corpo e a minha alma, os meus bens interiores e exteriores e o próprio valor das minhas obras passadas, presentes e futuras, deixando-vos pleno e inteiro direito de dispor de mim e de tudo o que me pertence sem exceção alguma segundo o vosso agrado e para maior glória de Deus, no tempo e na eternidade.”

Perfeição em
Jesus Cristo

 

“Recebei, ó Virgem benigna, esta pequena oferta da minha escravidão em união e em honra à submissão que a Sabedoria eterna quis ter à vossa maternidade: em homenagem ao poder que ambos tendes sobre este verme miserável pecador; em ação de graças pelos privilégios com que a Santíssima Trindade vos favoreceu. Protesto que, de hoje em diante desejo como vosso verdadeiro escravo buscar vossa honra, e obedecer-vos em tudo. Ó Mãe admirável, apresentai-me ao vosso querido filho, na qualidade de escravo eterno, a afim de que, tendo-me resgatado por Vós, por Vós me receba. Ó Mãe de misericórdia, concedei-me a graça de obter a verdadeira Sabedoria de Deus e de me colocar, para isso entre o número daqueles que amais, ensinais, guiais, alimentais e protegeis como vossos filhos e escravos. Ó Virgem fiel, tornai-me tudo perfeito discípulo, imitador e escravo da Sabedoria encarnada, Jesus Cristo, vosso Filho: que eu chegue, por vossa intercessão e a vosso exemplo, à plenitude da sua idade na Terra”e da sua glória no céu. Assim “seja.” O comentarista esclarece que “a plenitude da idade de Jesus Cristo“, é uma expressão de São Paulo ( Ef.4,13) que significa: a perfeição em Jesus Cristo.

Para saber mais:

http://consagrate.com/aulas-sobre-o-tratado/