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2014-12-15


Ícone é verdadeiro objeto de culto


Ana Lúcia Vasconcelos


 Ícone é verdadeiro objeto de culto

 

 

Capitulo 12

 

        Mas vejamos a história do ícone contada por Philipe Madre. Diz ele que a palavra ícone, de origem grega, significa imagem ou retrato, sendo que eram assim chamadas as imagens com caráter cristão que começaram a aparecer em Bizâncio, nos primeiros séculos. Ou seja, qualquer representação de Cristo, da Virgem ou dos Santos, fosse ela pintada ou esculpida era chamada ícone, sendo bom lembrar ainda, que no Oriente Médio, o ícone não é apenas simples imagem de piedade, mas verdadeiro objeto de culto. Segundo Philipe, o pintor de ícones é tradicionalmente um artista cujos talentos artísticos não são suficientes para que ele exercite sua arte. “Ele se quer instrumento do Espírito Santo, no qual ele põe toda a inspiração para seu trabalho, e por isso ele se entrega fielmente ao jejum e à oração”, antes e durante a feitura da obra de arte. Philipe lembra que apesar do que sugere a etimologia, o ícone não é um retrato do tipo fotográfico - “ele não pretende exprimir uma espécie de realidade física objetiva”.

     Daí que há ícones de Cristo com feições severas o que não significa que, segundo o autor, Cristo tivesse traços duros ou austeros. Ocorre, explica Philipe, “que todo ícone tem um caráter teofânico: não depende do autor e de sua psicologia particular. Sua fonte é celeste, é um lugar imagem, onde através de Cristo, da Virgem ou dos Santos, o Deus-Trino desvela sob uma luz toda sobrenatural, uma faceta do seu mistério”.  O ícone, na medida em que é verdadeiramente contemplado, introduz a uma Presença. Ele cria uma comunhão, não ligada a uma questão de sensibilidade entre a pessoa que ora, e a pessoa, ou pessoas representadas na imagem. Aos poucos, o que contempla se deixa imergir numa Presença toda espiritual e mística que pouco a pouco se descobre em sua alma. Neste sentido o ícone é o sinal eficaz de uma Presença se oferecendo ao coração do homem, na medida em que este O acolhe.”

 

Mensagens espirituais

libertações e graças

 

      Philipe diz ainda que através da contemplação do ícone, mensagens espirituais são recebidas, ocorrem libertações de toda a sorte, e graças são derramadas. E nisso, ele lembra, não há nada de extraordinário, já que a “vocação” do ícone é nos tornar mais perceptível àquilo que ainda é invisível para nós e, no entanto está tão próximo. Ele registra que “não existe ícone da Virgem em que Ela não mostre o Cristo Menino, à exceção dos que fazem parte de um conjunto.” Ensina ainda que há três categorias de ícones, correspondentes a três tipos de pedagogia divina, quanto à função de Maria na economia da Misericórdia: a Virgem Hodegetria, que significa aquela que mostra o caminho; a Virgem Eleousa, que significa a Virgem da Ternura, e a Virgem do Sinal, como a de Novagorod. Finalmente, um ícone pintado deve conter a inscrição do nome que ele representa: ela faz parte da inspiração que anima o autor. É através dessa inscrição que se torna possível a comunicação com a substância do que ele - o ícone representa.

 

Peripécias do

ícone milagroso

 

     Mas vamos à história dessa manifestação de Maria Santíssima em 981 através do ícone hoje denominado Maria Porta do Céu, venerado em várias localidades do mundo, inclusive Brasil, mais exatamente em Campinas (SP) e responsável por infinidades de curas e graças. Dizem os especialistas na matéria, que não é fácil reconstituir a “peripécia da história” deste ícone, sendo que a mais antiga versão baseia-se numa lenda. Consta que este ícone hoje conhecido foi feito de acordo com um modelo que teria chegado milagrosamente no Monte Athos no terceiro dia depois da Páscoa do ano de 981, portanto antes do Grande Cisma do Oriente (1054).

http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/igreja_ortodoxa/a_igreja_ortodoxa_historia7.html

 

http://www.mariadesatadoradosnos.com.br/?intSecao=34

 

    É preciso lembrar que o Concílio de Nicéia II, realizado em 787 chegara a conclusões que não agradaram exatamente os iconoclastas (crentes que se opunham, às vezes de forma violenta, ao culto de imagens: que devemos adoração apenas a Deus, mas às imagens prestamos veneração respeitosa, já que venerar uma imagem é “venerar nela a pessoa Daquele que ela representa”. Ora, é preciso esclarecer, que a crise iconoclasta destruiu o Império Bizantino durante os séculos VII e IX, tendo terminado no ano de 843.

http://www.veritatis.com.br/antigo/8874-ii-concilio-de-niceia--a-controversia-sobre-as-imagens

 

    Daí que os especialistas acreditam que o ícone foi pintado antes desta data já que há um golpe de espada justamente no rosto da Virgem, do qual, aliás, segundo narra a tradição teria saído sangue no momento da profanação. Mas voltando à história: como os iconoclastas ameaçavam destruí-lo, sua proprietária, uma mulher de Nicéia, preferiu jogá-lo no mar. Menos de dois séculos, depois o ícone foi encontrado no mar, e recolhido por um monge do Monte Athos.

 

Ela quer ficar

à porta do Céu

 

     Conta a tradição que os monges colocaram o ícone no iconostase- local dos ícones nas igrejas orientais, e que faz uma espécie de separação entre o coro e a nave-e no dia seguinte ele foi encontrado junto à porta. Novamente os monges o retiraram e o recolocaram dentro do templo. Dia seguinte, foi milagrosamente encontrado à entrada do mosteiro, sem que mãos humanas o tivessem tocado. “Como a mesma coisa se repetisse uma terceira vez, os monges decidiram deixá-la, Maria, onde ela parecia querer ficar: à entrada da igreja... e à porta do céu”, diz Philipe Madre. E durante mil anos, Maria Porta do Céu como passou a ser chamada, foi guardada no mosteiro do Monte Athos.

      Em 1920, um monge de Athos fez a reprodução da Porteira e a deu a outro monge russo, também artista. Ora este monge russo ensinava em Montreal, Canadá e tinha entre seus alunos um, católico, que se apaixonou pelo ícone e pediu ao professor que depois de sua morte lhe desse de presente. Anos mais tarde, o monge foi para a Alemanha, onde morreu com 104 anos. A esta altura, o antigo estudante abraçara a vida religiosa, era eremita e se dedicava à arte iconográfica. Eis que certo dia recebeu pelo correio, um pacote contendo o ícone. Era justamente o dia 2 de julho de 1981, só para recordar, exatamente mil anos depois da aparição milagrosa do ícone no Monte Athos. Alguns meses mais tarde, na noite de 21 de novembro, festa da Apresentação de Maria, um fenômeno extraordinário ocorre por volta de três horas da manhã: um óleo perfumado começa a se desprender do ícone e seu perfume era tão forte que enche o apartamento do monge acordando seus ocupantes. Mas, esta história com detalhes, será contada no devido tempo, ou seja, quando chegarmos ao século XX.

 

Para saber mais:

http://www.ecclesia.com.br/athos/