Facebook Twitter


2015-04-03


Páscoa é Passagem para a Vida


Ana Lúcia Vasconcelos


Páscoa é  Passagem para a Vida

 

 

    O significado da palavra Páscoa-pessach, em hebraico, é passagem. Para os judeus é passagem da escravidão para a liberdade. Escravos do faraó do Egito foram libertados por Moisés, atravessando, o Mar Vermelho a “pé enxuto”, conforme narram as Escrituras Sagradas. Para nós cristãos também é passagem: do estado de morte pelo pecado, para o estado de vida, na graça de Deus. Estado de graça, diga-se, em que podíamos estar mergulhados desde sempre, desde a criação do homem, já que Deus, o Todo Poderoso o Santíssimo Criador de todas as coisas nos dera o paraíso. Ocorre, porém, e isto todos sabemos, que nosso primeiro ancestral se transvia, peca, ou seja, se separa da Infinita Bondade, da Infinita Misericórdia, do Infinito Amor do seu Criador, para seguir seus próprios pensamentos, sua própria vontade. É a queda da humanidade: Adão pecou e por ele “o pecado entrou no mundo”, como diz São Paulo em Carta aos Romanos.

 

Reparação Infinita

 

    Refletindo sobre esta questão, de suma importância para a história da nossa salvação, Jean Daujat, autor do livro Conhecer o Cristianismo, vai dizer que o pecado não é senão “o desprezo pelo amor Infinito de Deus, desprezo pelo próprio Deus e pelo dom da Sua Vida”, o que é uma ofensa infinita já que feita a um Ser Infinito. Ora, para reparar tal ofensa infinita, deveria haver uma reparação infinita, que o homem, finito, não poderia realizar.”

Deus, portanto que ama a humanidade a ponto de querer que o seu pecado seja plena e totalmente reparado por uma tal superabundância infinita de amor que vai compensar tudo aquilo que no pecado havia de injúria infinita.”

    E como faz isso? Mandando Jesus Cristo, seu Filho Unigênito, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, homem e Deus, de maneira que seus atos fossem ao mesmo tempo de um homem e de um Deus. Eis aí o mistério da Encarnação Redentora. “Pela absoluta perfeição do seu corpo e da sua alma e de todas as suas faculdades, Jesus Cristo é o homem perfeito, Chefe e Rei supremo de toda a humanidade. Sua alma humana possui a plenitude absoluta da graça e de todos os dons de Deus. Assim, um só ato de Jesus Cristo, ato de Homem Perfeito, reunindo em si a perfeição de toda a humanidade, é ato de Deus Filho, expressão eterna e perfeita do esplendor do Pai que constitui um ato de amor de um valor infinito, bastante para compensar superabundantemente toda a malícia do pecado e capaz de santificar toda a humanidade”, afirma Daujat.

 

Sofrimentos terríveis

 

    E como vai se dar essa reparação? Por meio de sofrimentos terríveis. O homem-Deus, sendo flagelado e agonizando numa cruz. O horror infinito pelo pecado o fez agonizar de dor ao contemplar o espetáculo do amor de Deus repelido e desprezado pelos homens. E antes mesmo, quando Jesus agoniza no Jardim das Oliveiras a ponto de suar sangue: é a dor interior do seu coração, o espetáculo do pecado que o fez entrar em agonia.

     “ Por isso”, diz o padre Raniero Cantalamessa, “ não devemos nos indignar com a covardia de Pilatos, com a traição de Judas ou com a perfídia de Caifás. São os nossos pecados seus carrascos. É por causa da nossa avareza, do nosso orgulho e da nossa sensualidade que a Carne de Deus voa em pedaços, que os ossos de Deus estalam, que o sangue de Deus brota e corre, para que o Amor Infinito de Jesus Cristo compense abundantemente a nossa recusa do Amor de Deus.”

     “Daí que”, ele continua, “a Sexta Feira Santa é inseparável da Páscoa, e quando Pedro vai dizer no dia de Pentecostes: ‘Vós matastes Jesus de Nazaré! Deus o ressuscitou! Arrependei-vos!’, aquelas tres mil pessoas que ouviam sentiram o coração trespassado e disseram a ele e aos apóstolos: ‘ que devemos fazer irmãos?’ Um grande espanto se apoderou deles, conforme se lê nos Atos dos Apóstolos e se apodera de nós, se não formos de pedra. Como não ficarmos amedrontados com este pensamento: Deus amou tanto o mundo que lhe deu seu Filho Unigênito e nós o matamos. Matamos o autor da vida! Matamos a Vida!”, conclui tragicamente Cantalamessa.

 

Ressurreição que liberta

 

       No seu livro A Fé Cristã Renovada - Carisma Espírito Libertação, Heribert Muhlen vai dizer que quando Jesus diz: “Tudo está consumado”, Ele quer dizer que alcançou a união com o Pai, consumou-se a volta para o Pai, sendo mesmo esta unidade claramente expressa no seu discurso de despedida: “Para que todos sejam um, como Tu Pai, em mim e eu em Ti, todos sejam um em Nós” (Jo17,21) .

      E quando ressuscita, triunfando sobre a morte, faz com que a natureza humana renuncie também totalmente a ela mesma, a viver por si mesma, permanecer dobrada sobre si mesma. Em Jesus Cristo a natureza humana renasce, ou seja, renascemos, e revive totalmente voltada para a Bondade Infinita de Deus. “Se Jesus Cristo triunfou do pecado e da morte não foi somente pela sua própria Glória, foi também para nos associar à sua Glória, para nos libertar do pecado e nos dar a vida em Deus”, conclui Jean Daujat. E depois da Páscoa, ensina Heribert Muhlen, Jesus está presente na modalidade do seu Espírito, e este é por sua vez, o modo de ser “nosseico” do próprio Deus.

     “Ele não é o Eu divino, o Pai, nem o Tu divino, o Filho, mas sim a própria nosseidade divina, ou seja, o Nós divino em pessoa. Heribert Muhlen acredita que desde que o nós dual de Deus, se nos revelou no modus da Cruz como auto entrega ou autotranscendencia, a experiência do Espírito é sempre a experiência da autotranscendencia divina em nós, na sua dupla orientação de sentido: através de Cristo para o Pai e para os semelhantes”. E este segundo aspecto vai ser encontrado especialmente em 1JO3, 16: ‘Conhecemos o Amor (de Deus) no fato d’ Ele haver dado a vida por nós. Também nós devemos dar “a vida pelos irmãos”. Isso, porém, só conseguimos fazer, se Deus nos dá seu Espírito (1JO4, 13).  “O Pneuma enviado pelo Pai e pelo Filho não é para São João somente o Espírito da verdade e do conhecimento, senão também no sentido mais profundo, o Espírito da autodoação, do amor”.

    É neste sentido que devemos entender a Páscoa: passagem do estado de pecado, de queda, de morte, para o estado de Graça, de Vida, de Liberdade. Ressuscitando dos mortos, Cristo nos resgata definitivamente da morte. Nos liberta para sempre da tentação de fazermos a nossa vontade, nos ensina a fazer a vontade do Pai, como Ele fez: “obediente até a morte, e morte de cruz”.

 

Para saber mais:

 

 

http://ensinandodesiao.org.br/artigos-e-estudos/o-verdadeiro-sentido-da-pascoa-pessach/

 

http://www.brasilescola.com/pascoa/pascoa-judaica.htm

 

http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A1scoa